da Poesia (1944)
LUAR
O luar enche a terra de miragens
E as coisas têm hoje uma alma virgem,
O vento acordou entre as folhagens
Uma vida secreta e fugitiva,
Feita de sombra e luz, terror e calma,
Que é o perfeito acorde da minha alma.
CHIARO DI LUNA
Il chiaro di luna riempie la terra di miraggi
E le cose hanno oggi un’anima vergine,
Il vento ha destato tra il fogliame
Una vita segreta e fuggitiva,
Fatta di ombra e luce, terrore e calma,
Che è l’accordo perfetto della mia anima.
da Dia do Mar (1947)
Jardim onde o vento batalha
E que a mão do mar esculpe e talha.
Nu, áspero, devastado,
Numa contínua exaltação,
Jardim quebrado
Da imensidão.
Estreita taça
A transbordar da anunciação
Que às vezes nas coisas passa.
Giardino dove il vento lotta
E che la mano del mare scolpisce e intaglia.
Nudo, aspro, devastato,
In una continua esaltazione,
Giardino spezzato
Dalla immensità.
Stretta coppa
Trasbordante dell’annunciazione
Che a volte passa nelle cose.
da Mar Novo (1958)
NÁUFRAGO
Agora morto oscilas
Ao sabor das correntes
Com medusas em vez de pupilas.
Agora reinas entre imagens puras
Em países transparentes e de vidro,
Sem coração e sem memória
Em todas as presenças diluído.
Agora liberto moras
Na pausa branca dos poemas.
Teu corpo sobe e cai em cada vaga,
Sem nome e sem destino
Na limpidez da água.
NAUFRAGO
Ora oscilli morto
Al gusto delle correnti
Con meduse invece di pupille.
Ora regni tra immagini pure
In paesi trasparenti e di vetro,
Senza cuore e senza memoria
Diluito in tutte le presenze.
Ora liberato dimori
Nella pausa bianca dei poemi.
Il tuo corpo sale e scende in ogni onda,
Senza nome e senza destino
Nella limpidezza dell’acqua.
da Dual (1972)
AS FOTOGRAFIAS
Era quase no inverno aquele dia
Tempo de grandes passeios
Confusamente agora recordados –
A estrada atravessava a serra pelo meio
Em rugosos muros de pedra e musgo a mão deslizava –
Tempo de retratos tirados
De olhos franzidos sob um sol de frente
Retratos que guardam para sempre
O perfume de pinhal das tardes
E o perfume de lenha e mosto das aldeias
LE FOTOGRAFIE
Era quasi inverno quel giorno
Tempo di grandi passeggiate
Ora confusamente ricordate –
La strada attraversava la montagna nel mezzo
Su rugose mura di pietra e muschio la mano scivolava –
Tempo di ritratti scattati
Di occhi aggrottati sotto un sole di fronte
Ritratti che guardano per sempre
Il profumo di pineta delle sere
E il profumo di legna e mosto dei paesi
da O Búzio de Cós e outros poemas (1997)
TURISTAS NO MUSEU
Parecem acabrunhados
Estarrecidos lêem na parede o número dos séculos
O seu olhar fica baço
Com as estátuas — como por engano —
Às vezes se cruzam
(Onde o antigo cismar demorado da viagem?)
Cá fora tiram fotografias muito depressa
Como quem se desobriga daquilo tudo
Caminham em rebanho como os animais
TURISTI AL MUSEO
Sembrano sopraffatti
Sbigottiti leggono sulla parete il numero dei secoli
Il loro guardare resta basso
Con le statue — come per errore —
A volte s’incrociano
(Dove l’antico rimuginare lento del viaggio?)
Qui fuori scattano fotografie molto in fretta
Come chi si sbarazza di tutto quanto
Camminano in gregge come gli animali